domingo, 23 de agosto de 2015







"(...) o tempo, o tempo, esse algoz às vezes suave, às vezes mais terrível, demônio absoluto conferindo qualidade a todas as coisas, é ele ainda hoje e sempre quem decide e por isso a quem me curvo cheio de medo e erguido em suspense me perguntando qual o momento, o momento preciso da transposição? Que instante, que instante terrível é esse que marca o salto? Que massa de vento, que fundo de espaço concorrem para levar ao limite? O limite em que as coisas já desprovidas de vibração deixam de ser simplesmente vida na corrente do dia-a-dia para ser vida nos subterrâneos da memória; ela estava agora diante de mim, de pé ali na entrada, branco branco o rosto branco, filtrando as cores antigas de emoções tão diferentes, compondo com a moldura da porta o quadro que ainda não sei onde penduro, se no corre-corre da vida, se na corrente da morte; (...)"


Meses e eu ainda não sei. Na dúvida, não penduro: fica ali no chão, encostado à parede e de frente pra cama, e se alternam os momentos em que o ignoro e os em que o encaro ao rolar na cama nas noites em que não posso dormir. Como todas as coisas que saem de escala e enchem de medo as crianças a noite, o quadro também perde suas proporções: e de relance parece que os dois pertencem mais um ao outro e àquele instante do que à moldura que segura a cena imóvel e que chamamos vez ou outra de passado.

Um quadro é uma porta que não funciona. 

2 comentários:

Anônimo disse...

às vezes fico pensando se o desafio é dormir ou se o desafio é acordar dormindo ou não.

Anônimo disse...

30 years from now, we'll bump into each other as if we had never met.