sexta-feira, 3 de outubro de 2008

A porta do quarto se abre, eu paro e penso no que estou fazendo. Verifico que estou lendo textos de uma garota - nomeia-se Mel, há de ser garota - que eu não conheço e não creio que vá conhecer. O fundo da janela é amarelado e as letras roxo-acizentado, miúdas: nada que possa despertar o interesse da mãe que entra no quarto, nada na tela do computador que incite-a a investigar o que estou fazendo.

Olho na mesa e lá estão pedacinhos. Recolho fingindo querer ser discreta e a mãe finge não ver que estou recolhendo algo: talvez não queira dialogar. São muito pedacinhos e são dificeís de recolher. Coloco-os na boca e seguro o copo de leite que ela me entrega. Vou ao banheiro e cuspo de volta os pedacinhos de plástico amarelos que tinha arrancado com os dentes, da tampa de gilete mastigada. Olho-os. Meu cérebro emite uma risada sarcástica - a situação tem toda uma ironia, ou seria melhor dizer, uma ironia toda sua. Penso no péssimo vício de mastigar polímeros, nos pequenos pedaços amarelos, em doninhas e em outros seres - e vou dormir.

2 comentários:

César Schuler disse...

não adianta insistir, não pretendo voltar não.

mas, você gostou, foi?

:D

César Schuler disse...

Merece :D