Já temos mais do que um ano de pandemia e eu não escrevi nada. Batemos hoje os 500.000 mortos. Podia ter sido ontem ou amanhã, a verdade é que eu já não consigo acompanhar os números, carrego agora apenas essa tristeza impalpável e essa dificuldade da vida que segue normalmente.
Sonhei contigo essa semana. Inicialmente não era você, era um amigo de longa data que meu cérebro substituiu só pra que a gente pudesse conversar. Estávamos em algum lugar e você me comentava de um outdoor d’A Família Dinossauro, que você não lembrava o nome e chamava de Os Normais, destacando na sequência como era tudo igual apesar de diferente. Acordei entretida pelo diálogo improvável que meu cérebro me concedeu e, mais que qualquer outra coisa, acordei com saudades da sua voz.
Eu, que não tenho direito a sentir sua falta. Ouvi hoje falarem sobre você e me doeram de novo as circunstâncias, todo o tempo que a gente não pode fazer um rolê. Como eu não vou ouvir de novo a jew harp que você tocava e eu ria e você tocava pra me ver rir.
Todas as boas pessoas morrem jovens demais, independente da idade. Mas puta que pariu, aparece de novo nos meus sonhos quando der, eu queria ouvir de novo sua risada.